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sketchbook não é um produto, é um subproduto. É o que sobra depois que você termina um trabalho. São seus esboços, suas idéias, ensaios, experimentações. Também é seu caderno de anotações, um documento pessoal seu que registra experiências visuais sob sua ótica e não deixa sua mão enferrujar.
Pra mim isso é o mais interessante, quando pego um sketchbook de um artista que eu gosto, estou olhando além do trabalho final, estou vendo o processo criativo do cara, seus thumbnails, erros, acertos e decisões que todo projeto demanda e que quase nunca aparecem. Também estou vendo seus desenhos descompromissados, seus rabiscos e aquilo que ele gosta de fazer simplesmente pelo prazer de desenhar.
É por isso que estou sempre olhando os livros de making of , como os “The Art of…” que sempre trazem desenhos incríveis, muitos esboços e conceitos essenciais para a produção de um filme, um jogo e também uma HQ. Pra quem desenha, ou se interessa pelo assunto é um prato cheio, pode mudar o seu dia.
Sketchbooks não são muito comuns aqui no Brasil, dá pra entender. Se produzir uma HQ já é um trabalho considerável e dificilmente dá grana (ainda mais se você for independente), imprimir e distribuir um livro só com esboços e direcionado para um público ainda menor é bem complicado. Mesmo assim acho que esses livrinhos são bastante enriquecedores e gostaria de ver a moda pegar. Por isso que quando fui levar meu humilde sketchbook pra San Diego Comic-Con há três semanas, disse que queria voltar com um monte.
The BLVD studio, Patrick Morgan, Taesoo Kim, Eric Canete, Adam Hughes, Frank Cho, Neal Adams, Pierre Alary, Igor-Alban Chevalier, Claire Wendling, Mike Mignola, Geof Darrow, Chris Sanders, Paul Guinan e Terry Dodson.
Sendo essa a minha primeira convenção, é natural que o mais bacana tenha sido a oportunidade de conhecer e conversar com os próprios artistas, gente que conheço desde pequeno, sempre acompanhei o trabalho e também gente nova e talentosa que descobri já na era da internet. Entregar meu livro pra esses caras, ouvir na sequência “I’ll trade you”, e receber de volta o sketchbook deles, é pra mim além de uma honra, um sinal de que são muito educados ou gostaram do material (quem sabe os dois?).
Dos grandes, o único que não retribuiu a gentileza foi o Mestre Neal Adams, mas ok, mesmo tendo fama de chato, conversou comigo numa boa e me tratou muito bem. Aconteceu a mesma coisa com o Adam Hughes, sempre ouvi que era um mala mas foi muito legal e me perguntou “What do you do? Why don’t I know your work?” Respondi que sou ilustrador no Brasil, tenho um estúdio chamado Macacolândia e trabalho basicamente para agências de publicidade, “Ah! A real job”, concluiu. É uma piada velha, vários responderam isso.
Na contra-mão dos chatos existe sempre o Sérgio Aragonés. Respeitado e querido por todo mundo, ele fez juz à sua reputação de gente-finíssima. Depois que você conversa um pouco com ele, parece um tio seu. Amigo do Ziraldo, curte uma caipirinha e faz tudo pra te agradar. Quando voltei lá com o Gustavo, desenhou o Groo, deu presentes, fez desconto nos livros e contou histórias sobre o Salão de Humor de Piracicaba de 1976. Mal sabe ele que é um dos grandes responsáveis pela formação do caráter de muitos da minha geração.
A San Diego Comic-Con é um evento de fãs, das 50.000 pessoas que por lá passavam diariamente, uma modesta porcentagem estava em busca de conhecer novos artistas e novos trabalhos. O pessoal queria mesmo, além de assistir palestra com celebridades e testar novos jogos, é o contato com os ídolos, autógrafos, quick-sketches, exatamente como eu, alguns parágrafos acima.
Sketches matinais feitos na Panera Bread. Jovem Brando eu, e a velhinha do coringa pelo Rafa Albuquerque.
Sendo eu portanto um marinheiro de primeira viagem, um artista completamente desconhecido, reconheço que o Diburros Sketchbook 2011 fez um certo sucesso, o que foi ótimo. Não por nada, mas estava muito bem localizado e acompanhado desses caras que por lá já são celebridades há alguns anos. Não é a toa que paparam mais Eisners: Fábio Moon, Gabriel Bá e Rafael Albuquerque juntamente com a Becky Cloonan, nossa queridíssima Jill Thompson e é claro, o Gustavo Duarte, já veterano nessas convenções internacionais e lançando sua terceira HQ independente: Birds, sucesso absoluto na convenção.
Nosso Booth era o #1320, numa esquina bem localizada e movimentada. Nunca nos United States of America se falou tanto do Filme do Bátima nem na #mulherdocuringa como naqueles 4 dias. Eu, o Rafa Albuquerque e o Gustavo até concebemos um projeto em HQ que anunciaremos em breve sobre o assunto. Aguardem.
Outros brasileiros também circulavam, o João Ruas (conhecido nos EUA como Johnny Streets) acabou me ensinando o segredo da sua arte: guache cinza. Obviamente não vou contar como é porque essa informação vale muita grana, mas agora tudo faz sentido.
O Eisners Awards foi um evento à parte. Além de estar lá pela primeira vez, tive o prazer de ver (e tuitar) ao vivo o Bá, Moon e Rafa marcarem mais um tento pro Brasil em San Diego, passando na frente de muitos favoritos. Mas a gente já sabia. “You know what this show needs? More brazilian brothers” disse o inglês no palco quando eu voltava com a cerveja. Ainda assim, a festa seria maior se os bares, hotéis e 7-Elevens vendessem bebida até um pouco mais tarde.
Mais um detalhe bacana, em cada acento do auditório tinha um livro do Will Eisner pra você levar. Aproveitamos pra completar a coleção.
Murilo Martins, Gustavo Duarte, Marcelo Braga, Filipe Andrade, Rafael Albuquerque, Gabriel Bá, Cazé e Fábio Moon. Foto por 10 Pãezinhos
A gente também fez um poster pra vender autografado no Booth, “The 7 Monsters Jam 2011”. Infelizmente não ficou pronto a tempo e no fim o correio americano ainda pisou na bola.
Depois da convenção em San Diego, ainda fiz alguns lançamentos por aqui na Comix, Quanta, na Itiban em Curitiba, na Rio ComicCon, no FIQ em Belo Horizonte e na Multiverso ComicCon em Porto Alegre. Foi um fim de ano cansativo, mas muito bacana.